Quando falamos em política, os termos “direita” e “esquerda” estão entre os mais comuns — e também entre os mais mal compreendidos. Apesar de parecerem rótulos contemporâneos, suas origens são profundamente históricas e simbólicas. E tudo começa… com a disposição dos assentos em uma sala de reuniões no final do século XVIII.
A Revolução Francesa e a primeira divisão ideológica
A origem dos conceitos de “direita” e “esquerda” está diretamente ligada à Revolução Francesa, iniciada em 1789. Na Assembleia Nacional, os representantes que apoiavam a monarquia e os privilégios do Antigo Regime sentavam-se à direita do presidente da câmara, enquanto os que defendiam reformas radicais, como o fim da monarquia e a igualdade civil, sentavam-se à esquerda.
Assim, de forma literal, nasceu a distinção política que ecoaria pelos séculos seguintes: direita associada à ordem estabelecida, e esquerda, à transformação social.
Cabe uma rápida observação:
Mais antigo do que a posição dos assentos…
Embora os termos “direita” e “esquerda” só tenham ganhado corpo na Revolução Francesa, as ideias que eles representam são muito mais antigas. Desde a Grécia Antiga, os filósofos já debatiam temas como justiça, igualdade, poder e tradição.
Na Grécia Clássica, por exemplo, podemos ver em Sócrates e Platão uma defesa da ordem, da hierarquia e da razão como base da organização social — elementos que se alinham a uma postura mais conservadora. Por outro lado, os sofistas, que defendiam o relativismo, a retórica e a mudança dos costumes conforme o contexto, já expressavam ideias mais disruptivas, alinhadas a um pensamento mais progressista.
Em Roma, o conflito entre patrícios e plebeus, bem como as disputas no Senado entre conservadores (os “optimates”) e reformistas (os “populares”), mostram que a tensão entre manutenção da estrutura e transformação do sistema já era parte central da política.
Mesmo na Idade Média, embora o poder estivesse fortemente centralizado na Igreja e nos reis, havia movimentos como as heresias camponesas e os primeiros humanistas que questionavam a ordem vigente e propunham novos arranjos de poder e saber.
A evolução dos significados
Com o passar do tempo, a “direita” passou a representar ideologias que defendem a propriedade privada, a autoridade, o individualismo e o livre mercado. Já a “esquerda” se associou a projetos de justiça social, igualdade econômica, defesa de minorias e crítica às desigualdades estruturais.
Vale lembrar que esses termos são relativos ao contexto histórico e geográfico. O que é considerado “de esquerda” em um país pode ser visto como “de centro” em outro. E vice-versa.
Ainda faz sentido?
Atualmente, muitos analistas questionam se os termos ainda servem para explicar a complexidade da política contemporânea. Em tempos de polarização, redes sociais e novas formas de engajamento, a antiga divisão pode parecer limitada — mas ainda carrega um peso simbólico e histórico importante.
Entender a origem de “direita” e “esquerda” é também entender como a política se constrói a partir de símbolos, disputas e mudanças. Esses rótulos nasceram de uma configuração espacial numa assembleia, mas se transformaram em pilares do pensamento político moderno. Saber de onde vêm essas palavras ajuda a usá-las com mais consciência — e menos clichê.