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Cultura

Fé na Ciência

Pode parecer ser sobre Ateísmo. Mas não é exatamente isto…

Em 2011, Neil deGrasse Tyson fez um discurso famoso no qual discutiu a relação entre ciência e religião, especialmente em relação à presença de pessoas religiosas na comunidade científica. Ele apresentou dados sobre a porcentagem de cientistas que se identificam como religiosos e comparou esses números com a população geral.

Ele destacou que, entre os cientistas membros da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a taxa de crença em Deus ou em uma força superior é significativamente menor do que na população em geral. O discurso explorou questões como o impacto da religiosidade na investigação científica e a possibilidade de que certos sistemas de crença possam influenciar a aceitação ou a rejeição de ideias científicas.

Tyson menciona em seu discurso um ponto sobre o impacto do islamismo no número de cientistas ao longo da história. Ele discute como, durante a Idade de Ouro Islâmica (aproximadamente do século VIII ao século XIII), o mundo muçulmano foi um grande centro de ciência, matemática e inovação. Durante esse período, intelectuais islâmicos fizeram avanços significativos em áreas como astronomia, medicina, química e matemática (incluindo a consolidação do sistema numérico decimal e o desenvolvimento do conceito de álgebra).

Tyson aponta que, em determinado momento, houve um declínio no progresso científico dentro das sociedades islâmicas, o que ele atribui, em parte, a mudanças sociopolíticas e teológicas. Ele argumenta que a ascensão de interpretações mais dogmáticas do Islã pode ter desencorajado a exploração científica, deslocando o foco do pensamento crítico para uma visão mais teológica do mundo. Segundo ele, isso resultou em um declínio na produção científica em regiões que antes eram líderes no conhecimento.

Essa visão não está isenta de controvérsias, pois alguns historiadores argumentam que fatores políticos, econômicos e coloniais também tiveram papel crucial no declínio da ciência no mundo islâmico. Mas, no contexto do discurso, Tyson usa esse exemplo para ilustrar como a relação entre crença religiosa e ciência pode influenciar o desenvolvimento do conhecimento ao longo do tempo.

É possível estabelecer uma correlação entre a ascensão de uma visão mais radical e orientada à extrema direita nos governos de Trump nos EE.UU., negando a ciência em questões como efeitos climáticos, vacinas, etc… Bem como outras questões políticas, como leniência com discursos nazistas e um discurso totalitarista e imperialista… E, infelizmente essa preocupação não é infundada. A ascensão de movimentos políticos extremistas, especialmente aqueles que negam evidências científicas e promovem discursos totalitários, pode criar um ambiente hostil ao pensamento crítico, à pesquisa científica e ao avanço do conhecimento.

Se olharmos para a história, períodos de obscurantismo científico geralmente coincidem com momentos em que ideologias dogmáticas ou autoritárias se tornam dominantes. O exemplo citado por Neil deGrasse Tyson sobre o declínio da ciência no mundo islâmico medieval é apenas um dos casos. Podemos traçar paralelos com outros momentos históricos, como:

A Idade Média na Europa:
Entre os séculos V e XV, quando a Igreja Católica controlava rigidamente o conhecimento e desencorajava ideias que desafiavam sua doutrina.
A Revolução Cultural na China:
Entre 1966 e 1976, quando a ciência foi suprimida em nome da ideologia maoísta.
O Lysenkoísmo na União Soviética:
Período entre 1920 e 1964, quando a biologia genética foi rejeitada por razões ideológicas, prejudicando a ciência e a produção agrícola.

Com a progressão deste movimento, podemos entrar em um novo período de obscurantismo, onde a ciência passa a ser vista como uma ameaça a certos interesses ideológicos/econômicos e políticas públicas passam a ser formuladas com base em crenças e não em evidências.

O que pode definir se esse período será um fenômeno passageiro ou uma nova era de retrocesso dependerá da resistência da comunidade científica, da mídia independente e da sociedade civil como um todo. No passado, houve momentos de obscurantismo que foram superados pelo próprio avanço da ciência e pela pressão social. A questão agora é se há forças suficientes para conter essa tendência antes que seus danos sejam irreversíveis.

Já é possível estabelecer uma correlação entre a ascensão de políticas de extrema-direita no segundo governo de Donald Trump e o potencial surgimento de um período de obscurantismo científico. Desde sua posse em janeiro de 2025, o governo Trump implementou medidas que enfraquecem a ciência e o combate às mudanças climáticas. Cabe o registro: Já anunciou a revogação de limites de emissões para usinas de energia e automóveis, além de reduzir proteções para cursos d’água.

Além disso, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e da Organização Mundial da Saúde, movimentos que podem prejudicar a cooperação internacional em questões ambientais e de saúde pública. Essas ações refletem uma negação da ciência em áreas críticas como mudanças climáticas e saúde pública.

Tempos obscuros?