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Os Elementos da UX

Os Elementos da UX by Jesse James Garrett

A segunda edição do livro The Elements of User Experience: User-Centered Design é datada de 2010. Se não me falha a memória, devo ter em algum lugar uma cópia impressa (e in English) da primeira edição em algum lugar aqui de casa.

Seu autor, o Jesse James Garrett é Canadense e trabalha com pesquisa e desenvolvimento na área das tecnologias Web há séculos, ênfase nas coisas relacionadas à Experiência do Usuário (UX). O seu trabalho é referência há muitos anos. Conheço seu site e conteúdos desde o início da década de 2000, talvez até antes disto, ainda na segunda metade da década de 1990 já tenha esbarrado com algo dele. Se atribui à ele a autoria do termo AJAX, para descrever o conceito e o resultado prático de uma requisição feita assincronamente impactando na interface do usuário.

Neste livro, Garrett apresenta uma estrutura (que muitos assumem como uma metodologia) que descreve os diferentes componentes e camadas envolvidos na criação de um produto ou serviço digital, desde a perspectiva do usuário.

Ela é representada como um empilhado composto por cinco planos, que são, de baixo para cima:

Estratégia
Este é o plano mais alto e abrange os objetivos do negócio, as necessidades dos usuários e a visão global do projeto. Envolve a definição das metas, dos requisitos e das restrições do produto.
Escopo
Este nível aborda as funcionalidades e as características específicas do produto ou serviço, determinando o que o produto fará para atingir os objetivos estratégicos e as necessidades do usuário.
Estrutura
Neste plano, o foco está na organização e na arquitetura da informação. Isso envolve a criação de esquemas de navegação, fluxos de usuário e hierarquias de informações para garantir que o produto seja intuitivo e fácil de usar.
Esqueleto
Aqui, a metodologia trata do design de interface e da usabilidade. Isso inclui a definição de layout, design visual, elementos de interação e como as informações são apresentadas para maximizar a eficiência e a facilidade de uso.
Superfície
Este é o plano mais visível e tangível para os usuários. Envolve os aspectos visuais finais do design, como cores, tipografia, imagens e o estilo geral da interface.

Raciocinando em cima destes cinco planos seria possível construir uma experiência de usuário coesa e bem-sucedida. Bem fácil encontrar mais material detalhando sobre tudo isto na internet.

Mesmo não entendendo esta estrutura como uma metodologia propriamente dita, entendo que o raciocínio proposto por Garrett é interessante, funciona e é também amplamente usada (logo, também é validada) na indústria de design de UX/UI há anos, como um guia para entender as diferentes dimensões e camadas envolvidas na criação de produtos digitais centrados no usuário.

Isto posto, vamos lá…


Olhando de forma mais crítica para o raciocínio projetual, é interessante pontuar algumas coisas, principalmente quando comparamos com a abordagem metodológica do Design Centrado no Usuário, especialmente as etapas projetuais previstas nele.

Embora a metodologia de Garrett ofereça uma estrutura útil para compreender as camadas envolvidas na criação de produtos ou serviços digitais, ela pode apresentar algumas indefinições em relação aos passos metodológicos mais claramente postos pelo Design Centrado no Usuário.

Foco na estrutura técnica

A abordagem de Garrett tende a se concentrar mais na estrutura e na arquitetura do produto, destacando aspectos como a interface e a organização das informações. Isso pode levar a uma ênfase excessiva nos aspectos técnicos em detrimento da compreensão mais profunda das necessidades, comportamentos e experiências reais dos usuários.
Limitações na compreensão do contexto e das emoções do usuário
A metodologia de Garrett pode não ser tão eficaz na captura de nuances emocionais, culturais e contextuais que influenciam a experiência do usuário. O Design Centrado no Usuário, por sua vez, valoriza a imersão no contexto do usuário, levando em consideração suas emoções, valores e ambiente para criar soluções mais significativas e adaptadas.
Falta de flexibilidade e adaptabilidade
A abordagem de Garrett é estruturada e pode ser percebida como rígida em certos aspectos. Isso pode limitar a capacidade de adaptação a mudanças de contexto, preferências do usuário ou avanços tecnológicos, ao passo que o Design Centrado no Usuário tende a ser mais flexível e iterativo, incorporando feedback constante para aprimorar as soluções.
Ênfase na técnica sobre a empatia
Embora a metodologia de Garrett ofereça um guia técnico sólido, pode faltar a ênfase na empatia e na compreensão profunda das necessidades do usuário. O DCU, por outro lado, coloca a empatia no centro do processo, promovendo uma abordagem mais empática para compreender as necessidades reais dos usuários.

Em resumo, embora a proposta de Jesse James Garrett (que tenho prefiro não assumir como uma metodologia propriamente dita) ofereça uma estrutura clara e compreensível para orientar o raciocínio de desenvolvimento de soluções de UX/UI, ela pode apresentar limitações quando comparada ao Design Centrado no Usuário, principalmente no que diz respeito à compreensão holística das necessidades, emoções e contextos dos usuários, bem como na flexibilidade para se adaptar a mudanças e feedbacks contínuos.

Esta questão da flexibilidade, quando observamos o raciocínio e as etapas projetuais claramente descritas no DCU, é mais facilmente solucionada, justamente pela própria essência da metodologia DCU prever e descrever sua característica iterativa (ciclos iterativos prevendo etapas de validação do que se desenvolve junto aos usuários).