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Caos Completo

Inteligência Artificial, criação artística e o Capitalismo.

Os espíritos eletrônicos de um tempo.

Recentemente, Alvaro Borba, criador do canal de YouTube Meteoro Brasil, tem sido alvo de críticas por utilizar imagens geradas por inteligência artificial (IA) nos thumbnails de seus vídeos. A crítica se baseia na ideia de que essa prática desrespeita ilustradores que – supostamente – poderiam ser contratados para criar essas imagens.

No entanto, essa perspectiva pode ser considerada infrutífera quando analisada sob um ângulo mais abrangente do sistema capitalista em que estamos inseridos. Fato: Alvaro já declarou que sempre fez seus próprios thumbnails, num melhor espírito da colagem – Do It Yourself.

A utilização de Inteligências Artificiais Generativas para a criação de artefatos de design é uma realidade que já se impôs no mercado. A “comoditização” desse tipo de serviço é uma consequência direta do avanço tecnológico e da busca incessante por eficiência e redução de custos. (Sim, isto aqui tb é uma crítica ao raciocínio Neo-Liberal!)

Criticar Alvaro Borba por usar uma ferramenta disponível para otimizar seu trabalho é ignorar a engrenagem maior do capitalismo que constantemente esmaga e tritura as pontas das cadeias produtivas. (Sim, capitalismo é uma máquina de moer gente!)

A frase “Resistance is futile” (“A resistência é inútil”, ou “A resistência é fútil”), proferida pelos Borgs em Star Trek: The Next Generation, encapsula bem a inevitabilidade da adoção de novas tecnologias no contexto atual. As ferramentas de IA são apenas o mais recente exemplo de uma longa história de inovação que transforma o mercado de trabalho e desafia os profissionais a se adaptarem.

Em tempo, o modelo econômico da Federação Unida dos Planeta idealizada por Gene Roddenberry, não era Capitalismo. E Inteligências Artificiais estão no lore daquele universo ficcional desde a década de 1960. Dá pra aprender algo ali…

A Realidade do Capitalismo

Vivemos em um sistema onde a eficiência e a maximização de lucros são imperativos. Empresas e indivíduos buscam constantemente maneiras de cortar custos e aumentar a produtividade. Nesse contexto, a ferramenta IA se apresenta como uma solução lógica. A utilização dessas ferramentas para tarefas repetitivas e que demandam menos criatividade humana é uma consequência natural.

Segundo Marx (1867), no seu seminal “O Capital”, o capitalismo tende a revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, transformando todo o sistema de produção e as relações sociais. A introdução de IA no design segue essa mesma lógica, onde a inovação tecnológica é utilizada para aumentar a produtividade/competitividade e reduzir custos operacionais. E isto, logicamente, vai impactar nos sistemas de produção e nas relações sociais.

A Comoditização da Arte Digital

Arte digital, assim como muitas outras formas de trabalho ‘dito criativo’, está se tornando uma commodity.

  • é?
  • foi?
  • Ou já era?

Isso significa que ela está sendo padronizada e comercializada como qualquer outro produto no mercado. O uso de IA para criar thumbnails é um exemplo bem mais ou menos para este fenômeno… Convenhamos.

Para os profissionais da área “da criação” (meto as aspas mesmo… Pois lembro de Chacrinha, evoluindo Lavoisier), a resposta não está em criticar aqueles que utilizam essas ferramentas, mas em encontrar maneiras de agregar valor às suas habilidades que as máquinas ainda não podem replicar. A criatividade humana, a capacidade de contar histórias e a habilidade de criar conexões emocionais (empatia?!) com o público são áreas onde os humanos (ainda!) podem se destacar.

Criticar Alvaro Borba por utilizar IA em seus thumbnails é perder de vista a realidade maior do sistema capitalista. A utilização de novas tecnologias é inevitável e faz parte da dinâmica de transformação constante da máquina de moer. Temos, aos nossos olhos, uma nova mudança de paradigmas batendo na porta. Uma “outra revolução industrial”, tal qual a chegada da internet comercial, há 30 anos. Sendo que dessa vez, a paulada vai ser mais forte… e na emenda. Em vez de resistir às mudanças, os profissionais devem buscar maneiras de se adaptar e encontrar nichos onde sua criatividade e habilidades únicas (ainda!) possam brilhar.

IA e o Zeitgeist

As inteligências artificiais generativas se apropriam de um “Zeitgeist” enquanto base epistemológica para “criar” o que elas “criam“. Assim como artistas se inspiram em outras obras, outros artistas, e no espírito de seu tempo, as IAs coletam e processam enormes quantidades de dados culturais e históricos para gerar suas criações. Esta capacidade de absorver e transformar o conhecimento coletivo e cultural reflete o processo artístico humano em muitos aspectos.

Os Elementos Básicos da Criatividade

Documentários como Everything is a Remix destacam como a criatividade está intrinsecamente ligada à remixagem de ideias existentes. O livro Roube Como Um Artista, de Austin Kleon, reforça essa ideia ao argumentar que nada é completamente original e que toda criação é uma combinação de influências pré-existentes. As IAs, ao processarem dados e criarem novos conteúdos, seguem um princípio semelhante, sendo uma extensão tecnológica do processo criativo humano.

A idade bate: Uso este documentário e/ou suas premissas em sala de aula já vai quase 15 anos. Sem surpresas pois: Tudo que sai, é consequência do repertório que entrou.

Resistance is futile“, como dizem os Borgs/Dorcons. A aceitação e adaptação são os caminhos mais viáveis para prosperar no ambiente em constante mudança que caracteriza o capitalismo moderno.

Referências bibliográficas
  • FERGUSON, Kirby. Everything is a Remix. Disponível em: Everything is a Remix.
  • KLEON, Austin. Roube Como Um Artista. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.
  • MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Boitempo, 2013.

Update, dia 05.06.2024, 17:34h

Acabo de ver video publicado pelo Alvaro Borba:

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